Macroeconomia

O hiato do produto se eleva no terceiro trimestre de 2022 (+1,8%)

14 dez 2022

Hiato do produto subiu de 0,5% no 2º tri para 1,8% no 3º. No 2º tri, mesmo com pequena alta do produto efetivo, hiato se tornou positivo  inédita tendência declinante do produto potencial após 40 anos de aumento de longo prazo.  

Neste texto foram atualizadas, para o terceiro trimestre de 2022, as informações referentes ao hiato do PIB. Observa-se que o hiato do produto se tornou negativo a partir do primeiro trimestre de 2015 e assim permaneceu até o primeiro trimestre de 2022. A partir do segundo trimestre de 2022, se tornou positivo (+0,5%). Isso se deveu à pequena queda do produto potencial (-0,1%) e ao pequeno crescimento do produto efetivo (+1,1%). No terceiro trimestre, o produto efetivo  voltou a crescer (+0,3%), e o produto potencial voltou a cair (-0,9%), conforme o Gráfico 1 ilustra. Ou seja, mirando-se os últimos quarenta anos, conseguiu-se algo inédito: um produto potencial praticamente estagnado desde 2014 e, em seguida, com tendência declinante a partir de 2019.

             
 Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.

Isto indicaria que a redução do produto potencial, no quarto trimestre de 2021 (-0,44%), que ocorreu principalmente devido à redução do trabalho potencial, teria provavelmente sido revertida pelo aumento do nível de emprego e pela redução dos desalentados da população economicamente ativa (PEA). Com o avanço da vacinação e a recuperação da atividade econômica, os efeitos positivos foram sentidos na melhora do mercado de trabalho. O setor de serviços, em particular, apresentou elevação do nível de empregos, o que ocasionou a redução da taxa de desemprego, já que esse setor é altamente intensivo em mão de obra.

No Gráfico 2, é possível ver a decomposição do crescimento do produto potencial, em taxas acumuladas em 4 trimestres evitando-se assim uma visão de curto prazo. Desde o quarto trimestre de 2021, a queda observada deveu-se a contribuição negativa da PTF, apesar das contribuições positivas de capital e trabalho.


Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.

Observa-se no Gráfico 3 que a PTF apresentou tendência declinante na segunda metade da década de 1980 e início da década de 90, fato que pode ser associado às diversas crises econômicas vivenciadas no Brasil nesse período. Desde então, a tendência da PTF foi ascendente até 2011, tendo passado sem maiores dificuldades pela crise de 2008-2009. A partir de 2012, a trajetória se reverteu, com declínio do nível da PTF que se prolongou até o final da recessão de 2014-16. A partir de 2017, a PTF voltou a crescer, mas essa trajetória ascendente foi interrompida com a chegada da pandemia, em 2020. No entanto, logo no 3º trimestre de 2020, a PTF cresceu e alcançou o seu maior nível na série histórica. Mas a partir do 3º trimestre de 2021 ela voltou a declinar e segue, até o momento, com esta tendência.

Fonte: informações primárias do IBGE e elaboração própria     

O Gráfico 4 apresenta as informações da evolução da utilização do capital e do trabalho em percentual dos seus potenciais. Ao longo dos últimos 40 anos, foi frequente a sobreutilização do capital e a subutilização do fator trabalho. Algumas particularidades merecem ser destacadas: o fator capital foi na quase totalidade do tempo sobreutilizado; o fator trabalho na década de 80 andou próximo à utilização plena e ficou abaixo da utilização plena no restante do período até 2013, a partir de quando cresceu a sua utilização, ficando acima até o primeiro trimestre de 2019. A partir daí, sua utilização se reduziu e em seguida se recuperou no terceiro trimestre de 2020 com os incentivos à manutenção do emprego durante a pandemia. A partir do final de 2020, o fator capital volta a ficar sobreutilizado enquanto o fator trabalho volta a ficar subutilizado.


Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Comentários

Max Scardua
prezados. poderiam enviar o histórico do PIB potencial, PIB efetivo e Hiato de produto até 3T2022? email:maxscardua@yahoo.com.br

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