Cenários

PIB cresce acima do potencial: hiato positivo no segundo trimestre

20 set 2023

Não se observava hiato do produto positivo na economia brasileira desde o 2º trimestre de 2014 (0,3%). O hiato positivo deveu-se ao produto efetivo ter crescido 3,2% no trimestre, acima do produto potencial, que cresceu 1,3%.

Acesse aqui a planilha Excel com os dados deste texto.

Este texto apresenta um aprimoramento em nosso método de cálculo do produto potencial, que envolve o tratamento da variável Produtividade Total dos Fatores (PTF). Anteriormente, essa variável era considerada um resíduo da função de produção, após a estimativa do capital e do trabalho utilizados. Neste exercício, e doravante, a reconhecemos como a tendência daquela série obtida pelo resíduo, após aplicação de método de filtragem. Isso resulta em uma série com menos ruído e volatilidade.

O hiato apresenta sua segunda estimativa positiva no período pós-2014 (1,4% no 2T23 e 0,4% no 1T23). Observa-se que houve reversão da trajetória de hiato negativo, ou seja, com capacidade ociosa na economia. Não se observava hiato do produto positivo desde o segundo trimestre de 2014 (0,3%). Isto se deu devido ao produto efetivo ter crescido 3,2% no trimestre, acima do produto potencial que cresceu 1,3%. Esse crescimento potencial foi composto (Gráfico 4) por crescimento do capital potencial (2,16%), do trabalho potencial (0,9%) e por queda da PTF (-0,24%). Tendo em vista que o crescimento da atividade econômica no primeiro semestre do ano foi fortemente puxada pela agropecuária, é também coerente que o crescimento potencial tenha sido mais forte em capital.

 

Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI). Elaboração própria.

Observa-se no Gráfico 2 que a PTF apresentou tendência declinante na segunda metade da década de 1980 e início da década de 90, fato que pode ser associado as diversas crises econômicas vivenciadas no Brasil neste período. Desde então, a tendência da PTF foi ascendente até 2010, tendo passado sem maiores dificuldades pela crise de 2008-2009. A partir de 2010 a trajetória se reverteu com declínio do nível da PTF que se prolongou até o quarto trimestre de 2015. A partir de então a PTF volta a crescer, mas essa trajetória ascendente foi interrompida com a chegada da pandemia, em 2020. A partir de então, a PTF segue em níveis historicamente altos, porém com suave trajetória de queda.

Fonte: informações primárias do IBGE e elaboração própria

Ao se observar o Gráfico 3, abaixo, a PTF continua no campo negativo, desde o 1T22, apesar do forte crescimento destes dois primeiros trimestres do ano. 


Fonte: informações primárias do IBGE e elaboração própria

Um outro olhar possível é o da decomposição do crescimento potencial, conforme apresentado no Gráfico 4, abaixo. Observa-se que o crescimento deste segundo trimestre foi bastante baseado no fator capital,  como dito acima, explicado pelo bom desempenho da agropecuária.

O Gráfico 5 apresenta as informações da evolução das utilizações do capital e do trabalho efetivos em percentual dos seus potenciais. Ao longo dos últimos 40 anos, foi frequente a sobre utilização do uso de capital e a subutilização do fator trabalho. Algumas particularidades merecem ser destacadas: o fator capital foi, na quase totalidade do tempo, sobre utilizado, à exceção dos dois primeiros anos da década de 90, durante a recessão de 2014-16 e no ano de 2020 durante a pandemia. A partir daí o fator capital volta a ficar sobre utilizado.

O fator trabalho na década de 80 andou próximo à utilização plena e foi sobre utilizado em alguns anos desse período até o quarto trimestre de 1991; em seguida foi subutilizado no restante do período até 2013 quando a sua utilização cresce ficando com plena utilização até o segundo trimestre de 2015; a partir de então quando volta a ficar subutilizado, com alguns períodos de melhoria graças  aos incentivos à manutenção do emprego durante a pandemia.


Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Comentários

VItor Saito
Vocês podem disponibilizar o arquivo excel?

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