Produtividade

Produtividade do trabalho no Brasil: uma análise dos resultados setoriais desde meados da década de 1990

28 abr 2022

O baixo crescimento da produtividade agregada deve-se principalmente ao desempenho do setor de serviços. A dinâmica da produtividade desde 2020 precisa ser interpretada com cautela pois pode ter refletido as mudanças no mercado de trabalho decorrentes da pandemia.

Com o fim do bônus demográfico, a única forma de aumentar a renda per capita e gerar crescimento sustentável no Brasil nas próximas décadas será por meio da elevação da produtividade do trabalho. Por isso, discussões sobre o tema de produtividade ganham cada vez mais importância.

Diante da relevância do tema e com o objetivo de contribuir ainda mais para a discussão, o FGV IBRE lançou o site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, reunindo uma ampla base de dados sobre produtividade para a economia brasileira, além de estudos e análises, a fim de fornecer informações para uma maior compreensão do tema e contribuir para a formulação de políticas públicas que possam aumentar a produtividade e impulsionar o crescimento econômico do país.[1]

Em geral, a literatura de produtividade utiliza a população ocupada como medida do fator trabalho. No entanto, isso não leva em consideração a tendência observada em diversos países, inclusive no Brasil, de redução da jornada de trabalho. Em consequência disso, o crescimento do fator trabalho pode estar sendo superestimado quando se usa o número de pessoas empregadas, o que, por sua vez, resulta em um cálculo subestimado do aumento da produtividade. Diante deste contexto, os resultados apresentados neste texto utilizarão como medida do fator trabalho o total de horas trabalhadas na economia.[2]

O Gráfico 1 mostra a evolução da produtividade por hora trabalhada no Brasil para o agregado da economia e os três grandes setores (agropecuária, indústria e serviços) desde meados da década de 1990.[3]

Gráfico 1: Evolução da produtividade por hora trabalhada para o agregado
da economia e para os três grandes setores (agropecuária, indústria e serviços)
– Brasil: 1995 até 2021 – Em R$ de 2019


Fonte: Elaboração do Observatório da Produtividade Regis Bonelli com base nos dados das Contas Nacionais, Pnad e Pnad Contínua.

O único setor que apresentou crescimento robusto desde 1995 foi a agropecuária. Entre 1995 e 2021, o crescimento médio da produtividade por hora trabalhada deste setor foi de 5,6% a.a. (Tabela 1). Ao longo do período analisado, o maior crescimento da produtividade da agropecuária ocorreu no período 2007-2014 (7,5% a.a.). Analisando seu comportamento durante a pandemia, podemos observar que, após crescimento de 6,1% em 2020, houve uma queda de 9,5% na produtividade por hora trabalhada deste setor em 2021.

Como veremos adiante, esta queda na produtividade da agropecuária em 2021 também ocorreu em vários outros setores da economia, sugerindo, assim, que os ganhos obtidos em 2020 foram temporários, sendo revertidos em 2021.[4]

O desempenho da produtividade da indústria desde meados da década de 1990 foi muito negativo, com queda de 0,2% ao ano entre 1995 e 2021, passando de R$ 38,8 por hora trabalhada para R$ 36,6 por hora trabalhada. Os dados mostram que entre 1995 e 2003 houve uma redução de 2,1% ao ano na produtividade deste setor. Nota-se, ainda, no período pós crise, entre 2014 e 2019, um baixo crescimento da produtividade da indústria (0,8% a.a.), inferior ao observado no período 2003-2007 (1,1% a.a.), porém acima do observado entre 2007-2014 (0,2% a.a.). Já no ano de 2021, após elevação expressiva de 11,7% em 2020, houve uma forte queda de 9,4% na produtividade deste setor.

A produtividade do setor de serviços, que concentra cerca de 70% das horas trabalhadas e 73% do Valor Adicionado, também tem apresentado um fraco desempenho. O baixo crescimento desde 1995, de cerca de 0,4% ao ano, fez com que a produtividade por hora trabalhada crescesse pouco ao longo de todo o período, passando de R$ 33,5 em 1995 para cerca de R$ 37,0 em 2021. Em particular, houve queda de 0,5% ao ano na produtividade deste setor entre 1995 e 2003. Após um período de expansão de 2003 a 2014, a produtividade do setor de serviços apresentou forte queda, de 1,2% a.a., entre 2014 e 2019. Assim como no caso da indústria, também houve elevação expressiva da produtividade dos serviços em 2020 (13,6%), seguida de uma forte queda de 8% em 2021.

Leia aqui o Em Foco completo do Boletim Macro Ibre de abril de 2022 na sua versão digital.


[1] O site, disponível no endereço https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade, foi lançado no dia 4 de dezembro de 2019 no I Seminário de Produtividade e Reformas.

[2] As medidas de produtividade utilizadas neste artigo foram construídas dividindo-se o Valor Adicionado obtido das Contas Nacionais pelo total de horas trabalhadas em todas as ocupações, obtido da PNAD e da PNAD Contínua. Em particular, na Pnad Contínua o IBGE disponibiliza duas medidas de horas trabalhadas, são elas: horas habitualmente trabalhadas e horas efetivamente trabalhadas. Desde 2012, consideramos a variável de horas efetivamente trabalhadas, que podem incluir reduções por motivo de doença, feriado, falta voluntária, atraso ou por outra razão, bem como aumentos por conta de pico de produção e compensação de horas não trabalhadas em outro período, como sendo a informação a ser considerada como medida do fator trabalho. No entanto, na PNAD anual não são disponibilizadas informações para horas efetivamente trabalhadas. Diante disso, para os anos anteriores a 2012, retropolamos a série de horas efetivamente trabalhadas, com base na variação das horas habitualmente trabalhadas, visto que historicamente não há grandes diferenças entre o crescimento de ambas as medidas de horas trabalhadas. Para mais detalhes, acesse a nota de construção dos indicadores de horas trabalhadas e pessoal ocupado no link a seguir: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/nota_de_construcao_dos_dados_de_emprego_e_horas_trabalhadas_-_final.pdf

[3] No Observatório da Produtividade Regis Bonelli disponibilizamos todas as séries setoriais de produtividade tanto por hora trabalhada quanto por pessoal ocupado.

[4] Desde o início da pandemia temos publicado vários artigos no Observatório da Produtividade Regis Bonelli analisando a evolução da produtividade do trabalho durante a pandemia. Em particular, temos ressaltado o caráter temporário dos ganhos de produtividade obtidos em 2020, em decorrência principalmente da mudança de composição que o mercado de trabalho brasileiro vem sofrendo ao longo dos últimos trimestres. Para mais detalhes, acesse o último relatório de produtividade trimestral contendo toda a análise sobre os indicadores de produtividade ao longo dos últimos trimestres. O artigo está disponível no link a seguir: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/artigos/categorias/relatoriosnotas-tecnicas

Comentários

William de Melo...
Olá, saudações! Parabenizo aos pesquisadores pelos levantamentos e pelas pesquisas! Não sou especialista da área, mas gostaria, a título de conhecimento e esclarecimento, de entender qual foi o cálculo feito para se chegar à constatação de que a produtividade do trabalho por hora trabalhada do setor agropecuário cresceu em uma média de 5,6% a.a. entre 1995-2021. Estive calculando com base nos dados levantados pelos próprios pesquisadores e o percentual médio tem sido outro. Fico no aguardo, desde já agradeço!
Edmar
Boa tarde. Como se calcula essa produtividade?

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