Macroeconomia

Produtividade Total dos Fatores no Brasil: uma visão de longo prazo

21 ago 2020

Com o fim do bônus demográfico, a única forma de aumentar a renda per capita do Brasil nas próximas décadas será por meio da elevação da produtividade do trabalhador. Por isso, discussões sobre o tema da produtividade ganham cada vez mais importância no meio acadêmico e entre os formuladores de política econômica.

Uma das medidas amplamente utilizadas é a produtividade do trabalho, que consiste no Valor Adicionado gerado por trabalhador ou por hora trabalhada. Esta variável, no entanto, não permite avaliar o grau de eficiência com que são utilizados os recursos produtivos. Um indicador que permite esta análise é a produtividade total dos fatores (PTF), que leva em consideração não somente a produtividade da mão-de-obra, mas também a eficiência do uso de capital.

Vários pesquisadores brasileiros construíram indicadores de PTF para a economia brasileira, mas muitas vezes os dados não estão disponíveis para um público mais amplo ou a metodologia utilizada em sua construção não é descrita em detalhe.[1] Para suprir essas lacunas, o IBRE/FGV passará a disponibilizar no site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli indicadores anuais da PTF desde o início da década de 1980.[2]

Neste sentido, este relatório tem o objetivo de analisar a evolução anual da PTF no Brasil desde 1981.[3] O Gráfico 1 mostra a evolução da PTF e da produtividade por hora trabalhada, de modo a permitir uma análise das diferenças existentes entre as duas medidas.[4]

 

Gráfico 1: Evolução da PTF e da produtividade por hora trabalhada. Brasil. (1981=100)

Fonte: Elaboração IBRE/FGV

O Gráfico 1 mostra que, embora o comportamento da PTF seja correlacionado com a dinâmica da produtividade do trabalho, a PTF cresceu menos que a produtividade por hora trabalhada entre 1981 e 2019. Enquanto a PTF cresceu 0,3% ao ano (a.a.) neste período, a produtividade por hora trabalhada apresentou avanço de 0,4% a.a, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1: Crescimento da PTF e da produtividade por hora trabalhada
(em % ao ano). Brasil – períodos selecionados

Períodos

PTF

Produtividade do trabalho

1981-1990

-0,6%

-0,6%

1990-2000

0,1%

0,2%

2000-2010

1,5%

1,6%

2010-2019

-0,1%

0,4%

2010-2014

0,5%

1,5%

2014-2019

-0,6%

-0,5%

1981-2019

0,3%

0,4%

Fonte: Elaboração IBRE/FGV

Com exceção do período 2010-2019, a PTF teve crescimento próximo da produtividade por hora trabalhada. Por exemplo, entre 1981 e 1990, as duas medidas de produtividade tiveram queda anual de 0,6% a.a. Na década de 1990 houve uma modesta recuperação, com crescimento da PTF e da produtividade por hora trabalhada de 0,1% a.a. e 0,2% a.a., respectivamente. Nos anos 2000 a PTF teve forte aceleração para uma taxa de crescimento de 1,5%, muito próxima da elevação anual da produtividade do trabalho (1,6% a.a.). Já no período 2010-2019 houve um descolamento entre as duas variáveis, com aumento da produtividade por hora trabalhada de 0,4% a.a. e queda da PTF de 0,1% a.a.

Analisando-se este último período em mais detalhe, podemos observar que esta discrepância está concentrada entre 2010 e 2014, quando a produtividade por hora trabalhada cresceu em média 1,5% a.a. e a PTF aumentou apenas 0,5% a.a. A recessão que durou de 2014 a 2016 teve impacto negativo tanto na PTF quanto na produtividade por hora trabalhada, que tiveram queda entre 2014 e 2019 de 0,6% a.a. e 0,5% a.a., respectivamente.

De modo a quantificar a contribuição da PTF para o crescimento da economia brasileira, a Tabela 2 apresenta uma decomposição do crescimento do Valor Adicionado desde 1981 na contribuição de três componentes: estoque de capital em uso, horas trabalhadas e PTF.[5] Para ter acesso aos resultados da decomposição do crescimento da economia brasileira, acesse o texto completo no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


Referências

VELOSO, F.; MATOS, S.; PERUCHETTI, P. Nota metodológica dos indicadores anuais de produtividade total dos fatores no Brasil desde a década de 1980. 2020a.

VELOSO, F.; MATOS, S.; PERUCHETTI, P. Produtividade do trabalho: o motor do crescimento econômico de longo prazo. 2020b.

VELOSO, F.; MATOS, S.; PERUCHETTI, P. Mudança no padrão de recuperação do emprego após a última recessão e sua relação com a produtividade do trabalho. 2020c.

VELOSO, F.; FERREIRA, P.; GIAMBIAGI, F.; PESSÔA, S. (Orgs.). Desenvolvimento Econômico: Uma Perspectiva Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2013.

[1] Para uma discussão de várias medidas de PTF para a economia brasileira, ver Veloso et. al (2013).

[2] As séries de PTF e de produtividade do trabalho estão disponíveis no portal do Observatório da Produtividade Regis Bonelli: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade.

[3] Para maiores detalhes sobre a metodologia de cálculo da PTF, acesse a “Nota Metodológica dos Indicadores Anuais de Produtividade Total dos Fatores no Brasil desde a Década de 1980”, proposta por Veloso, Matos e Peruchetti (2020a) e disponível no Observatório da Produtividade Regis Bonelli através do link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/artigos/categorias/relatoriosnotas-tecnicas.

[4] Em geral, a literatura de produtividade do trabalho no Brasil utiliza a população ocupada como medida deste insumo. No entanto, isso não leva em consideração a tendência observada em diversos países, inclusive no Brasil, de redução da jornada de trabalho. Em consequência, o crescimento do fator trabalho pode estar sendo superestimado quando se usa o número de pessoas empregadas, o que por sua vez resulta em um cálculo subestimado do aumento da produtividade. Em função disso, utilizaremos as horas totais trabalhadas no cálculo das medidas de produtividade do trabalho apresentadas neste relatório. Para uma análise detalhada da evolução da produtividade por hora trabalhada desde 1981, ver Veloso, Matos e Peruchetti (2020b), disponível no site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli através do seguinte link: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/produtividade_do_trabalho_o_motor_do_crescimento_economico_de_longo_prazo.pdf.

[5] Por se tratar de uma decomposição, os termos referentes ao estoque de capital em uso e às horas trabalhadas são ponderados pelas respectivas participações na função de produção.

Comentários

Nilson B Nunes
A metodologia econômica sustenta que não há uma limitação formal para a "matemática analítica", num limite do plausível numerável. Mas a contínua e espiral transformações das mudanças da valoração de valor, propriedade,faz antever uma zona cinzenta. A participação de trabalho, capital e da produtividade total dos fatores (Trabalho, capital, tecnologia), faz demonstrar a queda da participação de trabalho, proporcionalmente à participação de capital nas séries de 1987-1997, 1997-2007, 2007-2017 (http://www.amazon.com/METODOLOGIA-ECON%C3%94MICA-HOMENS-INDISTINTOS-Portuguese-ebook/dp/B00GW199UI/ref=sr_1_4?ie=UTF8&qid=1424143887&sr=8-4&keywords=NILSON+BARCELLOS+NUNES)

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