Resultados dos indicadores de produtividade do trabalho no primeiro trimestre de 2025
No 1T2025, a métrica de produtividade que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou estabilidade. Já as métricas que consideram as horas habituais e a PO apresentaram crescimento interanual de 0,5% e 0,6%.
Desde 2019, o Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE tem divulgado estatísticas de produtividade por população ocupada e por hora trabalhada. Esta última medida considera duas informações sobre o total de horas trabalhadas[1].
A primeira são as horas habitualmente trabalhadas em todas as ocupações, obtidas da PNAD Contínua, que têm como referência uma semana em que não haja situações excepcionais que alterem a duração rotineira do trabalho, ou seja, uma semana típica de trabalho. A PNAD Contínua também fornece informações sobre as horas efetivamente trabalhadas na semana de referência, que podem incluir reduções por motivo de doença, feriado, falta voluntária, atraso ou por outra razão, bem como aumentos por conta de pico de produção e compensação de horas não trabalhadas em outro período.
Até o início da pandemia, os resultados obtidos a partir das duas medidas de horas trabalhadas eram semelhantes. No entanto, em função das medidas de distanciamento social necessárias para conter os efeitos da pandemia, desde o primeiro trimestre de 2020 os dados da PNAD Contínua passaram a revelar um descolamento entre as diferentes medidas do fator trabalho, em especial no segundo trimestre de 2020, tal como exposto no Gráfico 1.
Gráfico 1: Taxa de crescimento das horas efetivamente trabalhadas, das horas habitualmente trabalhadas e da população ocupada para o agregado da economia – (Em % e em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil
No primeiro trimestre de 2020, e particularmente no segundo trimestre, houve forte discrepância entre as medidas de população ocupada e horas habitualmente trabalhadas, de um lado, e das horas efetivamente trabalhadas, de outro. Os dados mostram que a queda nas horas efetivamente trabalhadas foi muito maior que a observada tanto na população ocupada quanto nas horas habitualmente trabalhadas.[2]
Esta discrepância, no entanto, foi diminuindo com a recuperação gradual ocorrida no mercado de trabalho nos trimestres seguintes. Em particular, ao longo de 2021, houve uma recuperação mais rápida das horas efetivamente trabalhadas quando comparado com o observado no emprego e nas horas habituais.[3] Como mostra o Gráfico 1, ao longo de 2022[4] houve uma desaceleração do crescimento das medidas do fator trabalho, que se manteve ao longo de 2023.[5]
No entanto, ao longo de 2024 os dados apontam para uma aceleração no crescimento das medidas do fator trabalho,[6] que se manteve no primeiro trimestre de 2025. Em particular, no primeiro trimestre de 2025, o total de horas efetivamente trabalhadas, o total de horas habitualmente trabalhadas e a população ocupada cresceram 2,9%, 2,3% e 2,3%, respectivamente.[7]
Em consequência, o indicador de produtividade construído com base nas horas efetivamente trabalhadas apresentou comportamento muito diferente ao longo da pandemia quando comparado com a produtividade por população ocupada e com a produtividade por hora habitualmente trabalhada, tal como apresentado no Gráfico 2.
Gráfico 2: Taxa de crescimento da produtividade agregada com base nas diferentes medidas do fator trabalho (por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população ocupada - em % em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil
Para o agregado da economia, a dinâmica da produtividade no Brasil até o quarto trimestre de 2019 não depende da métrica considerada. Com o avanço da pandemia de Covid-19, no entanto, o indicador de produtividade com base nas horas efetivamente trabalhadas começou a apresentar um forte descolamento em relação aos indicadores de produtividade por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada, em especial no segundo trimestre de 2020.[8]
Por conta do processo de normalização das horas efetivamente trabalhadas houve, no primeiro trimestre de 2021, uma forte desaceleração do crescimento do indicador de produtividade que considera esta medida do fator trabalho, seguida de uma queda significativa no segundo trimestre. Já os indicadores de produtividade que consideram a população ocupada e o total de horas habitualmente trabalhadas tiveram desaceleração do crescimento entre o primeiro e o segundo trimestre de 2021. Os dados mostram ainda que nos dois últimos trimestres de 2021 todas as métricas apontaram um forte recuo interanual da produtividade.[9] Esse quadro de queda interanual da produtividade se manteve ao longo de 2022, embora em magnitude menor ao longo dos trimestres.[10]
No entanto, em 2023 houve uma reversão deste padrão de sucessivas quedas interanuais nos indicadores de produtividade para o agregado da economia, de modo que ao longo de 2023 os dados apontaram para consecutivas elevações interanuais nos indicadores trimestrais de produtividade.[11] Os dados mostram que o forte crescimento da produtividade observada em 2023 não se sustentou em 2024.[12]
No primeiro trimestre de 2025, enquanto que a métrica de produtividade que considera o total de horas efetivamente trabalhadas apresentou estabilidade, as métricas que consideram o total de horas habitualmente trabalhadas e a população ocupada apresentaram crescimento interanual de 0,5% e 0,6%, respectivamente. Este desempenho da produtividade agregada no primeiro trimestre de 2025 foi influenciado pelo bom desempenho da agropecuária, que como veremos mais a frente, apresentou um forte crescimento interanual no início deste ano.
Outra forma de analisar a dinâmica dos indicadores de produtividade é com base nas séries que descontam os efeitos sazonais de cada trimestre, ou seja, com base nas séries dessazonalizadas. O Gráfico 3 mostra a taxa de crescimento dos indicadores de produtividade do trabalho em relação ao trimestre imediatamente anterior.[13]
Gráfico 3: Taxa de crescimento da produtividade agregada com base nas diferentes medidas do fator trabalho (por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população ocupada - em % em relação ao trimestre imediatamente anterior) – Brasil.
O Gráfico 3 mostra que, embora a produtividade tenha crescido no segundo trimestre de 2020 em todas as métricas, e no terceiro trimestre de acordo com as medidas por população ocupada e hora habitualmente trabalhada, houve queda na margem em todos os indicadores no quarto trimestre de 2020. Em 2021, houve queda na margem em todas as medidas. Em 2022, os resultados também não foram animadores, tendo em vista que a variação de todas as métricas oscilou entre queda ou ligeiro aumento.
No primeiro e no segundo trimestre de 2023 houve elevação na margem em todas as medidas de produtividade. No entanto, este bom desempenho não se sustentou nos demais trimestres do ano. Após ficar praticamente estável no terceiro trimestre, houve queda na margem em todas as medidas de produtividade do trabalho no quarto trimestre de 2023.
Em 2024, após queda na margem no primeiro trimestre, as medidas de produtividade voltaram a crescer no segundo trimestre. No terceiro trimestre de 2024 também houve avanço, mas em menor magnitude. Já no quarto trimestre de 2024, todos os indicadores de produtividade voltaram a apresentar queda na margem.
No primeiro trimestre de 2025, os dados apontaram para um forte crescimento na produtividade do trabalho. Em particular, o crescimento na margem da produtividade por hora efetivamente trabalhada foi de 1,5%, e o da produtividade por hora habitualmente trabalhada e por pessoal ocupado foi de 1,0% e 1,1%, respectivamente.
Como mostra o Gráfico 4, após um salto expressivo no segundo trimestre de 2020, a produtividade por hora efetivamente trabalhada desacelerou até 2022. Os aumentos observados ao longo dos dois primeiros trimestres de 2023 elevaram a produtividade por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada para um nível acima do observado no quarto trimestre de 2019.
No primeiro trimestre de 2025, todas as medidas continuaram acima dos níveis observados no quarto trimestre de 2019. Em particular, no primeiro trimestre de 2025, as métricas que consideram o total de horas efetivamente e habitualmente trabalhadas estavam 2,6% acima do observado no quarto trimestre de 2019. Já a medida que considera a população ocupada estava 2,9% acima do período pré-pandemia.
Gráfico 4: Evolução da produtividade do trabalho (4º trimestre de 2019=100)
No Gráfico 5, apresentamos a taxa de crescimento da produtividade do trabalho em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, para os três grandes setores da economia (agropecuária, indústria e serviços), com base nas três medidas do fator trabalho (por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada).[14]
Acesso o texto completo no Observatório da Produtividade Regis Bonelli
[1] O total de horas trabalhadas em todas as ocupações corresponde ao produto da jornada média pela população ocupada.
[2] Em 2020, houve uma queda muito mais pronunciada das horas efetivas (-14,1%) em comparação com a população ocupada (-7,7%) e com as horas habituais (-7,5%).
[3] Em 2021, houve um avanço muito mais pronunciado das horas efetivas (13,8%) em comparação com a população ocupada (5,0%) e com as horas habituais (5,1%).
[4] Em 2022, houve crescimento de 7,4% na população ocupada, de 7,7% no total de horas habitualmente trabalhadas e de 7,9% no total de horas efetivamente trabalhadas.
[5] Em 2023, houve crescimento de 1,4% na população ocupada, de 0,9% no total de horas habitualmente trabalhadas e de 1,1% no total de horas efetivamente trabalhadas.
[6] Em 2024, houve crescimento de 2,8% na população ocupada e de 3,0% tanto no total de horas habitualmente trabalhadas quanto no total de horas efetivamente trabalhadas.
[7] Após apresentarem um significativo descolamento no primeiro trimestre de 2024, com quedas interanuais de 1,2% e 0,1%, a jornada média efetivamente trabalhada e a jornada média habitualmente trabalhada voltaram a ter uma dinâmica interanual bem parecida no segundo e no terceiro trimestre de 2024. No entanto, desde o quarto trimestre de 2024 temos notado um novo descolamento no crescimento interanual da jornada média trabalhada. Apesar desta discrepância observada no último trimestre do ano passado, em 2024, o crescimento da jornada média efetivamente trabalhada (0,1%) e da jornada média habitualmente trabalhada (0,2%) foram bem similares. No primeiro trimestre de 2025, enquanto que o crescimento interanual da jornada média efetiva foi de 0,6%, o da jornada média habitual foi de 0,1%.
[8] Em 2020, todas as medidas apontaram para uma elevação da produtividade agregada. Enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou forte avanço de 12,7%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada cresceram 4,7% e 4,9%, respectivamente.
[9] Em 2021, houve queda em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou recuo de 8,1%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada recuaram 0,5% e 0,4%, respectivamente.
[10] Em 2022, houve queda em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou recuo de 4,4%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada recuaram 4,2% e 4,0%, respectivamente.
[11] Em 2023, houve elevação em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas cresceu 2,3%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada cresceram 2,4% e 2,0%, respectivamente.
[12] Em 2024, houve uma desaceleração no crescimento das diferentes medidas de produtividade. Em particular, enquanto que as métricas que consideram as horas efetivamente trabalhadas e as horas habitualmente trabalhadas cresceram apenas 0,1%, a medida de produtividade que considera a população ocupada cresceu apenas 0,2%.
[13] A construção dos indicadores de produtividade com ajuste sazonal foi feita com base na dessazonalização de cada um dos seus componentes. Como o IBGE não divulga séries dessazonalizadas de emprego e horas trabalhadas, utilizamos o mesmo procedimento aplicado ao valor adicionado para fazer o ajuste sazonal do fator trabalho.
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