Macroeconomia

Taxa de Investimentos no Brasil: a dificuldade de crescer

21 mai 2021

Este texto atualiza até o 1º trimestre de 2021 as informações sobre a taxa de investimento brasileira desde o início do século XX, comparando vários países. Examinam-se também os investimentos segundo seus componentes, e considerando-se as plataformas de petróleo.

Em post anterior publicado no blog do IBRE, foi feita uma análise da taxa de investimentos brasileira desde o início do século passado e, nesta publicação, pretende-se atualizar essas informações até o 1º trimestre de 2021 a partir da divulgação dos dados do Monitor do PIB da FGV.

O Brasil apresentou uma taxa de investimentos média durante o período 2010-2014 de 20,5% do PIB. Porém, com a recessão do segundo trimestre de 2014 até o fim de 2016, a taxa de investimento desabou, alcançando o nível de 14,6% em 2017, a menor taxa de investimento anual da última década. Foram quatro anos (2014-2017) de queda real dos investimentos. A maior diferença, considerando os dados anuais, desde 1995, foi de 6,3 p.p. entre os anos de 2013 (20,9%) e 2017 (14,6%).

Em meio a este desempenho ruim da taxa de investimento, em 2020 o país foi impactado pela crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19. Embora, em termos de taxa de investimento, ela não tenha se reduzido na pandemia tendo, inclusive, continuado sua lenta trajetória de elevação iniciada a partir de 2018, o cenário não é animador. Os dois componentes da taxa de investimento, que é medida pela divisão da formação bruta de capital fixo pelo PIB, apresentaram recuo real em 2020, porém o recuo do PIB (-4,1%) foi mais elevado do que o da formação bruta de capital fixo (-0,8%); o que resulta em um aumento da taxa de investimentos apesar da queda da formação bruta de capital fixo.

Outro ponto importante de se destacar é que a formação bruta de capital fixo está mensurada de acordo com a nova norma (Repetro) que obrigou a Petrobrás a internalizar todas as plataformas de petróleo pertencentes a uma companhia offshore de sua propriedade prestando serviços a ela. Dessa forma as plataformas de exploração de petróleo e algumas embarcações auxiliares, que não eram consideradas bens de capital do Brasil, passaram a sê-lo. Devido ao alto valor das plataformas essa mudança alterou fortemente a composição da formação bruta de capital fixo, notadamente a partir de 2018, o que teve impacto direto na taxa de investimentos. Na Tabela 1 abaixo é apresentada a média do peso de cada componente da formação bruta de capita fixo (FBCF) neste componente e como isto sofreu uma mudança significativa na comparação da média de 2000 a 2017 e de 2018 a 2020.

Tabela 1 – Composição dos componentes da formação bruta de capital fixo - %

Média do período

Máquinas e equipamentos

Construção

Outros

2000-2017

35%

52%

13%

2018-2020

41%

44%

15%

           Fonte: IBGE – Contas Nacionais.

Esta forma de mensurar as plataformas teve um impacto significativo na taxa de investimentos. Com a internalização das plataformas a partir de 2018 houve uma elevação abrupta dos investimentos como participação do PIB, conforme ilustrado no Gráfico 1. A taxa de investimento que seria de 15,1% no período 2018-2020, se torna 15,6% com a internalização das plataformas concentrada naquele período.

Apesar desse pequeno aumento da taxa de investimentos, fruto da menor queda da formação bruta de capital fixo do que o PIB e das mudanças de mensuração da formação bruta de capital fixo, em termos de comparação internacional a situação brasileira ainda não teve alteração significativa. Em 2020, aproximadamente 87% dos países do mundo apresentaram uma taxa de investimento maior do que a do Brasil. Na comparação apenas com os países emergentes, estes investiram, em média, mais que o dobro do Brasil enquanto que, a média dos países da América Latina e Caribe tiveram um investimento de quase 2,2 p.p. maiores que os nossos.

Segundo os dados das “Estatísticas do Século XX – IBGE”, com dados disponíveis desde 1908 da taxa de investimentos, foi possível construir o Gráfico 2. A partir de 1995, os dados são das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, e, para 2021 foi considerado o dado do primeiro trimestre divulgado no Monitor do PIB-FGV.

No Gráfico 3, há a comparação por décadas,[1] onde é possível notar que a taxa de investimento brasileira começou a se elevar em meados do século XX com a intensificação do processo de industrialização. No entanto, após atingir os picos de 21,9% nas décadas de 70 e 80, a taxa começou a declinar chegando a 17,7% na última década (2011-20), sendo a menor média de taxa de investimentos em mais de 50 anos.

Quando se analisa os anos da década de 2011-20, nota-se ainda que o percentual de 17,7% da taxa de investimentos brasileira foi muito influenciado pelas taxas acima de 20% no início da década, antes de iniciada a recessão de 2014-16. Este resultado, ilustrado no Gráfico 4, mostra o quão baixa é a nossa taxa de investimentos e que, embora em recuperação, ainda se encontra, na estimativa com os dados do 1º trimestre de 2021 do Monitor do PIB-FGV, 3,8 p.p. abaixo da taxa registrada em 2013 (20,9%).

Ainda com base nas informações do Gráfico 4, observa-se a composição da taxa de investimentos pelos componentes da formação bruta de capital fixo: [2] construção, máquinas e equipamentos e outros.[3] Há forte redução da contribuição referente ao componente “construção”, o que praticamente explica a contração da taxa de investimentos brasileira na última década. Desde o início dos anos 40 do século passado, a construção sempre apresentou um peso maior nos investimentos, porém, esta representatividade vem diminuindo desde a década de 2000, e o de máquinas e equipamentos, aumentando. Em 2020 praticamente não houve diferença entre os dois componentes (42,4% para construção e 42,3% para máquinas e equipamentos).

No Gráfico 6 fica evidente essa inversão que vem ocorrendo entre esses dois componentes da formação bruta de capital fixo com a média da taxa de investimento de máquinas e equipamentos tendo aumentado nas três últimas décadas e a da construção tendo se reduzido nas quatro últimas. Isso se deve, principalmente, a redução dos investimentos do governo e também à redução da demanda por moradias, em razão do endividamento das famílias e redução de seu poder de compra.

No entanto, em termos de velocidade, nota-se que o aumento da taxa de investimentos de máquinas e equipamentos foi de apenas 1,3 p.p. da década de 90 para a última década, enquanto a redução da taxa de investimentos da construção foi de -3,7 p.p.

Estes resultados mostram que, é de suma importância buscar reverter esse quadro dos investimentos principalmente no que se refere ao componente de construção. Para que o PIB possa voltar a crescer a taxas mais robustas e com isso, possibilitar a redução da taxa de desemprego, é preciso que além dos investimentos em máquinas e equipamentos, a construção mereça atenção especial ainda mais considerando o elevado contingente de empregos que este setor gera.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

[1] Ver também: Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia - Nota Informativa: “Comparando o crescimento do PIB nas décadas de 1980 e atual”.

[2] De 2011 a 2020, para o total da taxa de investimentos, foram utilizadas as informações das Contas Nacionais Trimestrais, sendo adotada, no caso do ano de 2021, o dado do 1º trimestre do ano divulgado no Monitor do PIB-FGV. Com relação aos dados desagregados, de 2011 a 2018 foram utilizadas informações das Tabelas Sinóticas e, para os anos de 2019 e 2020 foram utilizadas as informações da publicação das Contas Nacionais Trimestrais. Para 2021 foram utilizadas as estimativas do 1º trimestre divulgadas no Monitor do PIB-FGV.

[3] Outros são compostos por produtos de propriedade intelectual (pesquisa e desenvolvimento, software, banco de dados, exploração e avaliação mineral) além de outros ativos fixos.

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.