Cenários

Após ligeiro aumento interanual no terceiro trimestre de 2024, produtividade por hora efetivamente trabalhada segue acima da tendência pré-pandemia

12 dez 2024

No terceiro trimestre de 2024, o crescimento interanual da produtividade por hora efetivamente trabalhada foi de 0,1%. Os resultados apontam para uma forte desaceleração em relação ao desempenho observado ao longo de 2023.

Nas últimas semanas foram divulgados dados de produtividade do trabalho para economias avançadas, como os Estados Unidos e Reino Unido. Nos Estados Unidos foi verificada tanto uma elevação da produtividade por hora trabalhada agregada quanto da produtividade do setor manufatureiro no terceiro trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. Já no Reino Unido, enquanto que a métrica por hora efetivamente trabalhada apresentou queda interanual no terceiro trimestre deste ano, o indicador que considera como medida do fator trabalho o número de pessoas ocupadas avançou na mesma base de comparação.[1]

Desde 2019, o Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE tem divulgado estatísticas de produtividade por população ocupada e por hora trabalhada. Esta última medida considera duas informações sobre o total de horas trabalhadas. A primeira são as horas habitualmente trabalhadas em todas as ocupações, obtidas da PNAD Contínua, que têm como referência uma semana em que não haja situações excepcionais que alterem a duração rotineira do trabalho, ou seja, uma semana típica de trabalho.[2]

A PNAD Contínua também fornece informações sobre as horas efetivamente trabalhadas na semana de referência, que podem incluir reduções por motivo de doença, feriado, falta voluntária, atraso ou por outra razão, bem como aumentos por conta de pico de produção e compensação de horas não trabalhadas em outro período.

Até o início da pandemia, os resultados obtidos a partir das duas medidas de horas trabalhadas eram semelhantes.[3] No entanto, em função das medidas de distanciamento social necessárias para conter os efeitos da pandemia, desde o primeiro trimestre de 2020 os dados da PNAD Contínua passaram a revelar um descolamento entre as diferentes medidas do fator trabalho, em especial no segundo trimestre de 2020, tal como exposto no Gráfico 1.

Gráfico 1: Taxa de crescimento das horas efetivamente trabalhadas,
das horas habitualmente trabalhadas e da população ocupada para
o agregado da economia – (Em % e em relação ao mesmo
trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais
Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

No primeiro trimestre de 2020, e particularmente no segundo trimestre, houve forte discrepância entre as medidas de população ocupada e horas habitualmente trabalhadas, de um lado, e das horas efetivamente trabalhadas, de outro. Os dados mostram que a queda nas horas efetivamente trabalhadas foi muito maior que a observada tanto na população ocupada quanto nas horas habitualmente trabalhadas.[4]

Esta discrepância, no entanto, foi diminuindo com a recuperação gradual ocorrida no mercado de trabalho nos trimestres seguintes. Em particular, ao longo de 2021, houve uma recuperação mais rápida das horas efetivamente trabalhadas quando comparado com o observado no emprego e nas horas habituais.[5] Como mostra o Gráfico 1, ao longo de 2022 houve uma desaceleração do crescimento das medidas do fator trabalho.[6]

Esta tendência de desaceleração do fator trabalho se manteve em 2023.[7] No entanto, desde o primeiro trimestre de 2024 os dados apontam para uma aceleração no crescimento das medidas do fator trabalho. Em particular, no terceiro trimestre de 2024, o total de horas efetivamente trabalhadas, o total de horas habitualmente trabalhadas e a população ocupada cresceram 3,6%, 3,5% e 3,2%, respectivamente.[8]

Em consequência, o indicador de produtividade construído com base nas horas efetivamente trabalhadas apresentou comportamento muito diferente ao longo da pandemia quando comparado com a produtividade por população ocupada e com a produtividade por hora habitualmente trabalhada, tal como apresentado no Gráfico 2.

Gráfico 2: Taxa de crescimento da produtividade agregada com base
nas diferentes medidas do fator trabalho (por hora efetivamente
trabalhada, por hora habitualmente trabalhada,
e por população ocupada - em % em relação ao mesmo
trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas
Nacionais Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

Para o agregado da economia, a dinâmica da produtividade no Brasil até o quarto trimestre de 2019 não depende da métrica considerada. Com o avanço da pandemia de Covid-19, no entanto, o indicador de produtividade com base nas horas efetivamente trabalhadas começou a apresentar um forte descolamento em relação aos indicadores de produtividade por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada, em especial no segundo trimestre de 2020.[9]

Por conta do processo de normalização das horas efetivamente trabalhadas houve, no primeiro trimestre de 2021, uma forte desaceleração do crescimento do indicador de produtividade que considera esta medida do fator trabalho, seguida de uma queda significativa no segundo trimestre. Já os indicadores de produtividade que consideram a população ocupada e o total de horas habitualmente trabalhadas tiveram desaceleração do crescimento entre o primeiro e o segundo trimestre de 2021. Os dados mostram ainda que nos dois últimos trimestres de 2021 todas as métricas apontaram um forte recuo interanual da produtividade.[10] Esse quadro de queda interanual da produtividade se manteve ao longo de 2022, embora em magnitude menor ao longo dos trimestres.[11]

No entanto, em 2023 houve uma reversão deste padrão de sucessivas quedas interanuais nos indicadores de produtividade para o agregado da economia. Em particular, ao longo do ano passado os dados apontaram para consecutivas elevações interanuais nos indicadores de produtividade.[12]

Em função do descolamento observado nas medidas do fator trabalho, o crescimento interanual dos indicadores de produtividade no primeiro trimestre de 2024 variou entre as diferentes métricas. No entanto, desde o segundo trimestre todas as medidas de produtividade voltaram a apresentar um desempenho similar. Em particular, no terceiro trimestre de 2024, enquanto a métrica que considera a população ocupada cresceu 0,5%, as medidas que consideram o total de horas efetivamente trabalhadas e o total de horas habitualmente trabalhadas cresceram 0,1% e 0,2%, respectivamente. Os resultados apontam para uma forte desaceleração em relação ao desempenho observado ao longo de 2023.

Outra forma de analisar a dinâmica dos indicadores de produtividade é com base nas séries que descontam os efeitos sazonais de cada trimestre, ou seja, com base nas séries dessazonalizadas. O Gráfico 3 mostra a taxa de crescimento dos indicadores de produtividade do trabalho em relação ao trimestre imediatamente anterior.[13]

Gráfico 3: Taxa de crescimento da produtividade agregada
com base nas diferentes medidas do fator trabalho
(por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente
trabalhada, e por população ocupada - em % em relação ao trimestre
imediatamente anterior) – Brasil.


Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas
Nacionais Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

O Gráfico 3 mostra que, embora a produtividade tenha crescido no segundo trimestre de 2020 em todas as métricas, e no terceiro trimestre de acordo com as medidas por população ocupada e hora habitualmente trabalhada, houve queda na margem em todos os indicadores no quarto trimestre de 2020. Em 2021, houve queda na margem em todas as medidas. Em 2022, os resultados também não foram animadores, tendo em vista que a variação de todas as métricas oscilou entre queda ou ligeiro aumento.

No primeiro e no segundo trimestre de 2023 houve elevação na margem em todas as medidas de produtividade. No entanto, este bom desempenho não se sustentou nos demais trimestres do ano passado. Após ficar praticamente estável no terceiro trimestre, houve queda na margem em todas as medidas de produtividade do trabalho no quarto trimestre de 2023.

Em 2024, após queda na margem no primeiro trimestre, as medidas de produtividade voltaram a crescer no segundo trimestre. No terceiro trimestre deste ano também houve avanço, mas em menor magnitude. Em particular, no terceiro trimestre de 2024, as métricas que consideram o total de horas efetivamente trabalhadas e o total de horas habitualmente trabalhadas avançaram 0,2%. Já a métrica que considera a população ocupada cresceu 0,1%.

Como mostra o Gráfico 4, após um salto expressivo no segundo trimestre de 2020, a produtividade por hora efetivamente trabalhada desacelerou até 2022. Os aumentos observados ao longo dos dois primeiros trimestres de 2023 elevaram a produtividade por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada para um nível acima do observado no quarto trimestre de 2019.

Em 2024 todas as medidas continuam acima dos níveis observados no quarto trimestre de 2019. Em particular, no terceiro trimestre deste ano, a métrica que considera o total de horas efetivamente trabalhadas estava 1,9% acima do observado no quarto trimestre de 2019. Já as medidas que consideram o total de horas habitualmente trabalhadas e a população ocupada estavam 2,2% e 2,3% acima do período pré-pandemia, respectivamente.

Gráfico 4: Evolução da produtividade do trabalho (4º trimestre de 2019=100)

Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas
Nacionais Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

No Gráfico 5 apresentamos a taxa de crescimento da produtividade do trabalho em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, para os três grandes setores da economia (agropecuária, indústria e serviços), com base nas três medidas do fator trabalho (por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população ocupada).[14]

Acesse o texto completo no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


[1] Nos Estados Unidos, os indicadores do Bureau of Labor Statistics (BLS) apontaram para uma elevação da produtividade agregada (nonfarm business sector) de 2,0% no terceiro trimestre de 2024 em relação ao terceiro trimestre de 2023. Já no setor manufatureiro a elevação foi menor (0,6% na mesma base de comparação). No Reino Unido, os dados do Office for National Statistics (ONS) mostraram uma elevação de 0,3% na produtividade por pessoal ocupado no terceiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023, e uma queda de 1,8% na métrica que considera como medida do fator trabalho o total de horas trabalhadas.

[2] O total de horas habitualmente trabalhadas em todas as ocupações corresponde ao produto da jornada média pela população ocupada.

[3] Este fato foi amplamente discutido nas notas anteriores, que podem ser acessadas no Observatório da Produtividade Regis Bonelli pelo link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/artigos/categorias/relatoriosnotas-tecnicas

[4] Em 2020, houve uma queda muito mais pronunciada das horas efetivas (-14,1%) em comparação com a população ocupada (-7,7%) e com as horas habituais (-7,5%).

[5] Em 2021, houve um avanço muito mais pronunciado das horas efetivas (13,8%) em comparação com a população ocupada (5,0%) e com as horas habituais (5,1%).

[6] Em 2022, houve crescimento de 7,4% na população ocupada, de 7,7% no total de horas habitualmente trabalhadas e de 7,9% no total de horas efetivamente trabalhadas.

[7] Em 2023, houve crescimento de 1,4% na população ocupada, de 0,9% no total de horas habitualmente trabalhadas e de 1,1% no total de horas efetivamente trabalhadas.

[8] Após apresentarem um significativo descolamento no primeiro trimestre de 2024, com quedas interanuais de 1,2% e 0,1%, a jornada média efetivamente trabalhada e a jornada média habitualmente trabalhada voltaram a ter uma dinâmica interanual bem parecida. Em particular, no terceiro trimestre de 2024, enquanto a jornada média efetiva cresceu 0,4%, a jornada habitual aumentou 0,3%. Isto fez com que o crescimento do total de horas trabalhadas em ambos os conceitos fosse novamente similar.

[9] Em 2020, todas as medidas apontaram para uma elevação da produtividade agregada. Enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou forte avanço de 12,7%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada cresceram 4,7% e 4,9%, respectivamente.

[10] Em 2021, houve queda em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou recuo de 8,1%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada recuaram 0,5% e 0,4%, respectivamente.

[11] Em 2022, houve queda em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou recuo de 4,4%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada recuaram 4,2% e 4,0%, respectivamente.

[12] Em 2023, houve elevação em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas cresceu 2,3%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada cresceram 2,4% e 2,0%, respectivamente.

[13] A construção dos indicadores de produtividade com ajuste sazonal foi feita com base na dessazonalização de cada um dos seus componentes. Como o IBGE não divulga séries dessazonalizadas de emprego e horas trabalhadas, utilizamos o mesmo procedimento aplicado ao valor adicionado para fazer o ajuste sazonal do fator trabalho.

[14] No site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli disponibilizamos os indicadores de produtividade para as três medidas do fator trabalho nos doze setores da economia. O acesso à base de dados está disponível através do link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/temas/categorias/pt-trimestral

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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