Produtividade

Após novo crescimento interanual no 4º tri, produtividade do trabalho fecha 2023 em alta

15 mar 2024

A alta da produtividade agregada em 2023 deveu-se em grande medida ao bom desempenho da agropecuária. Além disso, os setores mais produtivos apresentaram maior expansão do valor adicionado, contribuindo para este bom resultado.

Os eventos associados à pandemia de Covid-19 tiveram forte impacto sobre a atividade econômica e o mercado de trabalho, e elevaram de forma extraordinária o nível de incerteza em relação à dinâmica dos indicadores de produtividade, especialmente no Brasil.

Nas últimas semanas foram divulgados dados de produtividade do trabalho para economias avançadas, como os Estados Unidos e Reino Unido. Nos Estados Unidos foi verificada tanto uma elevação da produtividade por hora trabalhada agregada quanto da produtividade do setor manufatureiro no quarto trimestre de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022. Já no Reino Unido houve queda tanto no indicador que considera como medida do fator trabalho o número de pessoas ocupadas quanto na métrica que considera as horas trabalhadas.[1]

Desde 2019, o Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE tem divulgado estatísticas de produtividade por população ocupada e por hora trabalhada. Esta última medida considera duas informações sobre o total de horas trabalhadas. A primeira são as horas habitualmente trabalhadas em todas as ocupações, obtidas da PNAD Contínua, que têm como referência uma semana em que não haja situações excepcionais que alterem a duração rotineira do trabalho, ou seja, uma semana típica de trabalho.[2]

A PNAD Contínua também fornece informações sobre as horas efetivamente trabalhadas na semana de referência, que podem incluir reduções por motivo de doença, feriado, falta voluntária, atraso ou por outra razão, bem como aumentos por conta de pico de produção e compensação de horas não trabalhadas em outro período.

Até o início da pandemia, os resultados obtidos a partir das duas medidas de horas trabalhadas eram semelhantes.[3] No entanto, em função das medidas de distanciamento social necessárias para conter os efeitos da pandemia, desde o primeiro trimestre de 2020 os dados da PNAD Contínua passaram a revelar um descolamento entre as diferentes medidas do fator trabalho, em especial no segundo trimestre de 2020, tal como exposto no Gráfico 1.

Gráfico 1: Taxa de crescimento das horas efetivamente trabalhadas,
das horas habitualmente trabalhadas e da populaçãoocupada para
o agregado da economia – (Em % e em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais
Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

No primeiro trimestre de 2020, e particularmente no segundo trimestre, houve forte discrepância entre as medidas de população ocupada e horas habitualmente trabalhadas, de um lado, e das horas efetivamente trabalhadas, de outro. Os dados mostram que a queda nas horas efetivamente trabalhadas foi muito maior que a observada tanto na população ocupada quanto nas horas habitualmente trabalhadas.[4]

Esta discrepância, no entanto, foi diminuindo com a recuperação gradual ocorrida no mercado de trabalho nos trimestres seguintes. Em particular, ao longo de 2021, houve uma recuperação mais rápida das horas efetivamente trabalhadas quando comparado com o observado no emprego e nas horas habituais.[5] Como mostra o Gráfico 1, ao longo de 2022 houve uma desaceleração do crescimento das medidas do fator trabalho.[6]

Esta tendência de desaceleração do fator trabalho se manteve em 2023.[7] No quarto trimestre houve elevação interanual de 1,0% nas horas efetivamente trabalhadas, de 1,1% nas horas habitualmente trabalhadas e de 1,6% na população ocupada. Apesar da ligeira aceleração em relação ao terceiro trimestre de 2023, o crescimento interanual no quarto trimestre do ano passado ainda é bem inferior ao observado nos anos anteriores.

Em consequência, o indicador de produtividade construído com base nas horas efetivamente trabalhadas apresentou comportamento muito diferente ao longo da pandemia quando comparado com a produtividade por população ocupada e com a produtividade por hora habitualmente trabalhada, tal como apresentado no Gráfico 2.

Gráfico 2: Taxa de crescimento da produtividade agregada
com base nas diferentes medidas do fator trabalho (por hora efetivamente
trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população
ocupada - em % em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Brasil

Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais
Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

Para o agregado da economia, a dinâmica da produtividade no Brasil até o quarto trimestre de 2019 não depende da métrica considerada. Com o avanço da pandemia de Covid-19, no entanto, o indicador de produtividade com base nas horas efetivamente trabalhadas começou a apresentar um forte descolamento em relação aos indicadores de produtividade por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada, em especial no segundo trimestre de 2020.[8]

Por conta do processo de normalização das horas efetivamente trabalhadas houve, no primeiro trimestre de 2021, uma forte desaceleração do crescimento do indicador de produtividade que considera esta medida do fator trabalho, seguida de uma queda significativa no segundo trimestre. Já os indicadores de produtividade que consideram a população ocupada e o total de horas habitualmente trabalhadas tiveram desaceleração do crescimento entre o primeiro e o segundo trimestre de 2021. Os dados mostram ainda que nos dois últimos trimestres de 2021 todas as métricas apontaram um forte recuo interanual da produtividade.[9] Esse quadro de queda interanual da produtividade se manteve ao longo de 2022, embora em magnitude menor ao longo dos trimestres.[10]

No entanto, em 2023, tem havido uma reversão deste padrão de sucessivas quedas interanuais nos indicadores de produtividade para o agregado da economia. Em particular, desde o primeiro trimestre deste ano, os dados tem apontado para consecutivas elevações interanuais nos indicadores de produtividade. Enquanto que na métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas o crescimento interanual no quarto trimestre de 2023 foi de 1,3%, nas métricas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada o crescimento foi de 1,2% e 0,7%, respectivamente.[11]

Uma outra forma de analisar a dinâmica dos indicadores de produtividade é com base nas séries que descontam os efeitos sazonais de cada trimestre, ou seja, com base nas séries dessazonalizadas. O Gráfico 3 mostra a taxa de crescimento dos indicadores de produtividade do trabalho em relação ao trimestre imediatamente anterior.[12]

Gráfico 3: Taxa de crescimento da produtividade agregada
com base nas diferentes medidas do fator trabalho (por hora efetivamente
trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população
ocupada - em % em relação ao trimestre imediatamente anterior) – Brasil

Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais
Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

O Gráfico 3 mostra que, embora a produtividade tenha crescido no segundo trimestre de 2020 em todas as métricas, e no terceiro trimestre de acordo com as medidas por população ocupada e hora habitualmente trabalhada, houve queda na margem em todos os indicadores no quarto trimestre de 2020. Em 2021, houve queda na margem em todas as medidas. Em 2022, os resultados também não foram animadores, tendo em vista que a variação de todas as métricas oscilou entre queda ou ligeiro aumento.

Após apresentarem elevações entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2023, houve queda na margem em todas as medidas de produtividade do trabalho no quarto trimestre do ano passado. Em particular, no quarto trimestre de 2023, a produtividade por hora efetivamente trabalhada recuou 0,7% e as produtividade por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada recuaram 0,9%.

Como mostra o Gráfico 4, após um salto expressivo no segundo trimestre de 2020, a produtividade por hora efetivamente trabalhada desacelerou até 2022. No entanto, em função das elevações observadas ao longo dos três primeiros trimestres de 2023, a produtividade por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada ainda se mantém acima do nível observado no quarto trimestre de 2019. Em particular, apesar do recuo na margem no quarto trimestre de 2023, a produtividade por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada e por população ocupada superaram o nível observado no quarto trimestre de 2019 em 1,1%, 1,1% e 1,0%, respectivamente.

Gráfico 4: Evolução da produtividade do trabalho (4º trimestre de 2019=100)

Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli.
Elaboração FGV IBRE com base nos dados das Contas Nacionais
Trimestrais e da Pnad Contínua (IBGE).

No Gráfico 5 apresentamos a taxa de crescimento da produtividade do trabalho, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, para os três grandes setores da economia (agropecuária, indústria e serviços), com base nas três medidas do fator trabalho (por hora efetivamente trabalhada, por hora habitualmente trabalhada, e por população ocupada).[13]

O artigo completo pode ser acessado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


[1] Nos Estados Unidos, os indicadores do Bureau of Labor Statistics (BLS) apontaram para uma elevação da produtividade agregada (nonfarm business sector) de 2,6% no quarto trimestre de 2023 em relação ao quarto trimestre de 2022. Já no setor manufatureiro a elevação foi menor (0,5% na mesma base de comparação). No ano de 2023, enquanto que a produtividade agregada dos Estados Unidos apresentou elevação de 1,3%, a produtividade do setor manufatureiro caiu 0,8%. No Reino Unido os dados do Office for National Statistics (ONS) mostraram uma queda de 0,6% na produtividade por pessoal ocupado no quarto trimestre de 2023 em relação ao mesmo período de 2022 e de 0,3% na métrica que considera como medida do fator trabalho o total de horas trabalhadas, na mesma base de comparação. No ano de 2023, enquanto que a produtividade por hora trabalhada ficou estável, a produtividade por pessoal ocupado recuou 0,6%.

[2] O total de horas habitualmente trabalhadas em todas as ocupações corresponde ao produto da jornada média pela população ocupada.

[3] Este fato foi amplamente discutido nas notas anteriores, que podem ser acessadas no Observatório da Produtividade Regis Bonelli pelo link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/artigos/categorias/relatoriosnotas-tecnicas

[4] Em 2020, houve uma queda muito mais pronunciada das horas efetivas (-14,1%) em comparação com a população ocupada (-7,7%) e com as horas habituais (-7,5%).

[5] Em 2021, houve um avanço muito mais pronunciado das horas efetivas (13,8%) em comparação com a população ocupada (5,0%) e com as horas habituais (5,1%).

[6] Em 2022, houve crescimento de 7,4% na população ocupada, de 7,7% no total de horas habitualmente trabalhadas e de 7,9% no total de horas efetivamente trabalhadas.

[7] Em 2023, houve crescimento de 1,4% na população ocupada, de 0,9% no total de horas habitualmente trabalhadas e de 1,1% no total de horas efetivamente trabalhadas.

[8] No ano de 2020, todas as medidas apontaram para uma elevação da produtividade agregada. Enquanto que a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou forte avanço de 12,7%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada cresceram 4,7% e 4,9%, respectivamente.

[9] No ano de 2021, houve queda em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto que a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou recuo de 8,1%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada recuaram 0,5% e 0,4%, respectivamente.

[10] No ano de 2022, houve queda em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto que a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas apresentou recuo de 4,4%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada recuaram 4,2% e 4,0%, respectivamente.

[11] Em 2023, houve elevação em todas as medidas de produtividade. Em particular, enquanto que a métrica que considera as horas efetivamente trabalhadas cresceu 1,9%, as medidas que consideram as horas habitualmente trabalhadas e população ocupada cresceram 2,1% e 1,6%, respectivamente.

[12] A construção dos indicadores de produtividade com ajuste sazonal foi feita com base na dessazonalização de cada um dos seus componentes. Como o IBGE não divulga séries dessazonalizadas de emprego e horas trabalhadas, utilizamos o mesmo procedimento aplicado ao valor adicionado para fazer o ajuste sazonal do fator trabalho.

[13] No site do Observatório da Produtividade Regis Bonelli disponibilizamos os indicadores de produtividade para as três medidas do fator trabalho nos doze setores da economia. O acesso à base de dados está disponível através do link: https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade/temas/categorias/pt-trimestral

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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