O que é produtividade – 4
Esta é a parte 4 e última de nosso estudo sobre produtividade. Nesta parte 4 vamos buscar entender as razões para a evolução da produtividade ao longo dos 17 anos, resultados que já foram abordados na parte 3 desse estudo e seu impacto em outros indicadores da economia.
“National accounts constitute the preferred statistical source for productivity measurement. The utility of national accounts for productivity analysis can be greatly enhanced when they are set up jointly and consistently with an input-output framework”. (OECD, 2001)
I - INTRODUÇÃO
Esta é a parte 4 e última de nosso estudo sobre produtividade. Nas anteriores foram abordados os seguintes temas:
- No primeiro, “O que é produtividade 1” exploramos os indicadores de produtividade do capital, do trabalho e a da produtividade total dos fatores (PTF) para o total da economia;
- No segundo, “O que é produtividade 2”, exploramos as diferenças entre a produtividade calculada com o Valor Adicionado a preços básicos (VApb) e o Valor Adicionado líquido (VAlq), que foi estimado com base nas Matrizes Insumo Produto (MIP) de 2000, 2005, 2010 e 2015.
- No terceiro, “O que é produtividade 3”, exploramos os resultados da produtividade ao longo do período 2000-2017 com base nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU).
Nesta parte 4 vamos buscar entender as razões para a evolução da produtividade ao longo dos 17 anos, resultados que já foram abordados na parte 3 deste estudo e seu impacto em outros indicadores da economia.
A produtividade do trabalho depende de vários aspectos, quase todos associados ao longo prazo. Acumulação de capital humano e de capital físico são dois elementos essenciais. Mas também a existência de equilíbrio macroeconômico e de um ambiente institucional amistoso, que favoreça o crescimento, são essenciais ao crescimento da produtividade e da competitividade das atividades econômicas domésticas.[1] E, a competitividade das atividades econômicas dependerá da capacidade de as atividades econômicas domésticas competirem com as importações do Resto do Mundo e de serem capazes de exportar para o Resto do Mundo.
É fato que a produtividade do trabalho depende das máquinas e equipamentos (capital físico), que estão ao dispor do trabalhador na sua atividade produtiva. Um esforço então foi feito para se estimar o estoque de capital em cada atividade (ver apêndice 1). Foi também estimada a capacidade de cada atividade em praticar seu domínio do mercado e, portanto, diferenciar preços de custos (mark-up), significando valor adicionado maior e, portanto, maior produtividade.
Estimamos, também, o grau de competitividade da indústria medindo a participação das importações na oferta doméstica de bens e a capacidade de competir exportando os bens domesticamente produzidos. Se a produtividade for maior, menor será a capacidade de as importações ocuparem parte das vendas domésticas dos produtos importados. Por sua vez, quanto maior for a produtividade maior será a capacidade exportadora da economia.
II - RESULTADOS
O que se busca nesta parte dos nossos estudos sobre produtividade é relacioná-la com alguns dos indicadores anteriormente mencionados como capazes de influenciá-la.
A Tabela 1, abaixo, traz as médias de 17 anos desses indicadores citados, que passamos a comentar.[2]
Tabela 1 – Média de 17 anos dos indicadores relacionados
Fonte: IBGE, Monitor do PIB-FGV, “O que é Investimento”, TD IBRE, elaboração dos autores
Observa-se que
- (i) A taxa de variação da produtividade da indústria de transformação no período 2000-2017 foi de -0,6% ao ano. Na desagregação desta atividade em 17 segmentos, nota-se que 11 deles apresentaram variação negativa da produtividade, enquanto 6 tiveram desempenho positivo (produtos de madeira, celulose e papel, química, produtos farmacêuticos, material elétrico e eletrônico e móveis e indústrias diversas), como pode ser visualizado no Gráfico 1, abaixo.
Fonte: SCN-IBGE. Elaboração dos autores
- (ii) A intensidade de capital por unidade de trabalho da indústria de transformação está representada no Gráfico 2, abaixo: destacam-se três atividades – Química, papel e celulose, equipamentos de transportes e produtos farmacêuticos.
Fonte: SCN-IBGE, “O que é Investimento” TD IBRE, Elaboração dos autores
- (iii) No gráfico 3, abaixo, ilustra-se o mark-up médio da indústria de transformação por atividade no período de 2000-2017, que foi de 1,34, destacando-se produtos farmacêuticos, editorial e gráfica, móveis e indústrias diversas, artigos do vestuário e calçados e produtos de madeira.
Fonte: SCN-IBGE. Elaboração dos autores
- (iv) Os coeficientes de importação e de exportação estão ilustrados no gráfico 4, abaixo: a importações participam da oferta doméstica de bens em mais de 10% em 10 atividades econômicas. Por sua vez, apenas cinco atividades destinam mais de 10% de seus produtos para a exportação.
Fonte: SCN-IBGE, ICOMEX-IBRE, Elaboração dos autores
- (v) Buscando relacionar os indicadores com a produtividade do trabalho, iniciamos com a intensidade capital por unidade de trabalho. São 17 atividades para as quais se tem informação ao longo dos 17 anos estudados. Essa correlação é de 0,75, elevada e positiva – como esperado, já que quanto maior a intensidade de capital por trabalhador, maior a produtividade dos trabalhadores.
- (vi) O gráfico 5, abaixo, mostra essa relação de forma limitada (média de 17 anos), mas ilustrativa, dessa relação.
Fonte: SCN-IBGE, “O que é Investimento”, NCNÍBRE, TD-IBRE, Elaboração dos autores
- (vii) O segundo indicador não mostra o que se esperava como hipótese. Não há correlação (-0,11) entre o markup e a produtividade.
- (vii) Os indicadores de competitividade também não se revelam favoráveis a hipótese inicial, já que as correlações são pequenas e com sinais contrários. Ou seja, nesse grau de agregação não conseguimos evidência de que as atividades com maior produtividade conseguiriam competir com importações, ou ainda, que as atividades com maior produtividade conseguiriam exportar mais.
III - CONCLUSÃO
Como conclusão ressaltamos que pudemos constatar que a produtividade do trabalho está fortemente associada a intensidade de capital por trabalhador. Investigações mais desagregadas para outras correlações são possíveis e devem continuar em outras edições deste trabalho.
APÊNDICE 1 - CÁLCULO DO ESTOQUE DE CAPITAL POR ATIVIDADES
Para estimar esse estoque de capital utilizou-se o método do inventário perpétuo já explicado na primeira parte do estudo, utilizando-se as informações das Pesquisas Industriais Anuais (doravante PIA) que relatam de quanto foi o investimento em cada atividade econômica dividindo-o em máquinas e equipamentos e construção. Essas informações foram disponibilizadas no estudo “O que é Investimento” (colocar aqui link desse texto).
O estoque de capital utilizado refere-se aos setores da PIA. A fórmula que foi considerada está abaixo:
Em que: Kt é o Estoque de Capital, K t-1é o Estoque de Capital do período anterior, It é o investimento do período e é a taxa de depreciação padronizada como 5%. Para o investimento é imperativo que ele esteja a preços constantes, e no presente trabalho os valores correntes de investimento da PIA foram deflacionados a preços de 1995.
Como os dados da PIA são anuais, é possível calcular a participação do investimento de cada atividade e, por adição, se obter o investimento do total da indústria de transformação e, em seguida, sua relação com a formação bruta de capital fixo anual. Com essas operações obtivemos a participação da indústria de transformação e de cada uma de suas atividades na FBCF total a cada ano.
Depois disso, seguimos o método para calcularmos o índice de uma série encadeada e saber a real taxa de crescimento de um período a outro em relação a base do primeiro ano de investimento. Com isso, temos todos os componentes para encontrarmos o Estoque de Capital, porém falta o último elemento que é o cálculo do K0 que é dado pela fórmula abaixo:
Onde g é a média do período todo, das taxas de variação de cada período do índice da série encadeada de base fixa. Como cada Kt depende do estoque do ano anterior, é preciso calcular o K0 previamente. Portanto, finalmente, o Estoque de Capital é calculado com as taxas de variação média do índice encadeado de base fixa, uma taxa de depreciação padronizada de 5% e a fórmula do Kt é aplicada para cada valor de investimento anual.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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