Percepção das empresas sobre o home office no período da pandemia
Desde o início da pandemia, muitas empresas precisaram adotar o home office para manter suas atividades em funcionamento. Em quesitos aplicados nas sondagens do FGV IBRE, as empresas relataram sua percepção sobre adoção do home office, produtividade e expectativas de adoção após o final da pandemia.
Os eventos associados à pandemia da Covid-19 tiveram um impacto importante sobre o mercado de trabalho no Brasil e no mundo. Em particular, diversas medidas de distanciamento social foram adotadas, levando a um crescimento acelerado do uso do trabalho remoto nas atividades em que isso era possível.
Existe na literatura internacional um vasto conjunto de estudos que se propuseram a entender o tema e quantificar a extensão do trabalho remoto. O estudo pioneiro de Dingel e Neiman (2020) utiliza as descrições das ocupações com base na Occupational Information Network (O*NET) para estimar em que grau as ocupações nos Estados Unidos poderiam ser feitas de forma remota. Os resultados apontaram que o potencial de trabalho remoto nos Estados Unidos corresponderia a 37% da mão de obra.
Recentemente Barbosa Filho, Veloso e Peruchetti (2021) adaptaram a metodologia de Dingel e Neiman (2020) ao contexto do Brasil, incluindo a necessidade de uma infraestrutura mínima doméstica para poder se trabalhar em casa, que consiste em: acesso contínuo a energia elétrica e possuir internet em ao menos um microcomputador, usando dados da PNAD Contínua. Além disso, os autores fazem uma comparação da estimativa de potencial de trabalho remoto no Brasil com o trabalho remoto efetivamente realizado, usando dados da PNAD-COVID. Os resultados sugerem que o potencial da adoção do trabalho remoto no Brasil, controlando pela necessidade de uma infraestrutura mínima de trabalho, é de somente 17,8%, bem abaixo do potencial de países desenvolvidos, mas ainda significativamente superior ao trabalho remoto efetivamente observado no Brasil, que atingiu 10,4% do total de ocupados no momento mais crítico da pandemia, em junho do ano passado.[1]
Para tentar entender essa nova dinâmica no mercado de trabalho brasileiro, foram realizados quesitos extraordinários nas Sondagens Empresariais do FGV IBRE de setembro de 2021. Entre os dias 01 e 27 deste mês foram entrevistadas 4.000 empresas sobre o assunto, incluindo quesitos sobre os seguintes temas: adoção do home office; impacto na produtividade da empresa; e expectativas sobre a continuidade do trabalho remoto.
Inicialmente, as empresas foram consultadas sobre a adoção do regime remoto ou home office ao longo da pandemia. Mais da metade das empresas (56,6%) experimentaram esse regime ao longo da pandemia, de forma parcial ou total, incluindo os que já adotavam essa modalidade antes da pandemia. Os destaques ficam por conta dos setores da indústria e de serviços, cuja adoção foi de 73,3% e 62,7%, respectivamente. Por outro lado, no comércio e na construção, mais da metade das empresas não adotaram esse regime (64,3% e 52,7%, respectivamente).
Adoção das empresas do trabalho remoto ou regime
de home office na pandemia – Em percentual
Fonte: FGV IBRE
Vale ressaltar também que dentro dos próprios setores existem diferenças. Em particular, no setor de serviços, 91,8% das empresas do segmento de serviços de informação e comunicação adotaram ou já adotavam algum tipo de trabalho remoto, enquanto nos serviços prestados às famílias apenas 34,2% das empresas o adotaram ou já o adotavam. Como tem sido apontado por muitos analistas, a dificuldade de adaptação ao trabalho remoto foi um dos principais motivos a prejudicar o desempenho de determinados segmentos produtivos nos piores momentos da pandemia.
Em seguida, as empresas que adotaram ou já adotavam o regime remoto, responderam sobre o percentual de colaboradores que estão atualmente nesse regime. O resultado agregado (empresarial) foi de 22,3%, mas novamente heterogêneo entre os setores. O maior percentual foi registrado em serviços (33,8%) e o menor no comércio (11,2%), sendo a maior parte desse percentual focado nas atividades administrativas das empresas.
Percentual dos colaboradores em regime
remoto ou home office – Dados em percentual
Fonte: FGV IBRE
O terceiro quesito respondido pelas empresas, novamente para aquelas que adotaram o home office, foi sobre a percepção de impactos na produtividade. Em todos os setores, a maioria das empresas não observou mudança na produtividade dos colaboradores. No resultado agregado empresarial, 21,6% das empresas observaram aumento e 19,4% redução da produtividade. Esse saldo positivo na percepção da produtividade foi registrado na indústria e em serviços. No comércio e na construção, há maior percentual de empresas que vêm observando queda na produtividade do que aumento.
Percepção das empresas sobre a produtividade dos colaboradores
com o trabalho remoto ou home office – Dados em percentual
Fonte: FGV IBRE
As empresas responderam também sobre quanto seria (em termos percentuais) esse ganho (ou perda) de produtividade. No resultado agregado, as empresas reportaram 20,7% de aumento médio da produtividade e 20,6% de redução média da produtividade. Esse padrão simétrico ocorre nos principais setores também. Quando se observa os dados mais desagregados, essa simetria não é disseminada. Um exemplo disso é o segmento de serviços prestados às famílias, onde o aumento da produtividade foi menor e em média de 17,2%, enquanto a queda foi mais disseminada e correspondeu a uma redução média de 40,8%, o maior percentual entre os segmentos pesquisados.
Aumento médio e queda média da produtividade dos colaboradores
com o trabalho remoto ou home office – Dados em percentual
Fonte: FGV IBRE
Por fim, as empresas foram consultadas sobre quantos dias os colaboradores estão em regime remoto e qual a expectativa da empresa para o momento após o final da pandemia. Nesse quesito, as empresas dividiram as respostas dos colaboradores em áreas administrativas e operacionais. De uma maneira geral, a área administrativa tem mais dias de regime remoto, o que já era esperado porque muitas atividades operacionais não permitem essa adoção. Olhando para frente, há uma expectativa das empresas em reduzir esses dias em regime remoto de 3,1 para 1,7 na área administrativa e de 1,1 para 0,7 na área operacional no resultado agregado, mostrando redução em todos os setores.
Média de dias por semana em que os colaboradores
estão trabalhando remoto ou home office
Fonte: FGV IBRE
[1] O artigo de Barbosa Filho, Veloso e Peruchetti (2021) pode ser acessado no link a seguir: https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/trabalho_remoto_no_brasil.pdf
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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