Luiz Guilherme Schymura

Doutor em Economia pela EPGE da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ex-presidente da Anatel, hoje é o diretor do FGV IBRE.

O que explica as diferenças na trajetória da incerteza no mundo e no Brasil?

O Indicador de Incerteza Política e Econômica Global, produzido pelos economistas Nick Bloom, Scott Baker e Steven Davis, tem apresentado uma expressiva tendência de aumento nos últimos meses, sinalizando que a incerteza mundial está cada vez maior. Por outro lado, o Indicador de Incerteza Econômica-Brasil (IIE-Br), produzido pelo FGV IBRE, parece muito mais estável. Diversos questionamentos surgem a partir da comparação entre os indicadores, cujas trajetórias desde 2000 também diferem significativamente.

Incerteza recorde global e o difícil exercício das projeções

Na Carta do IBRE anterior, de outubro deste ano, foram abordados a fraca demanda global e o esgotamento dos instrumentos monetários e fiscais para reanimá-la. Nesta Carta, vai se tratar de outro tema cuja relação com a fraqueza de demanda é de retroalimentação, reforçando-a e por ela sendo reforçada: o elevado grau de incerteza que se abate sobre a economia global. 

O esgotamento dos instrumentos de incentivo à demanda global e seus efeitos sobre o Brasil

Desde a grande crise financeira global de 2008/2009, muito se fez em termos de ativismo monetário e fiscal para acelerar a atividade econômica em diversas partes do mundo. Os juros básicos caíram para próximo de zero nas principais economias, houve recompra maciça de títulos de longo prazo pelos bancos centrais dos Estados Unidos, zona do euro e Japão, e pacotes de cortes de impostos ou aumento de gastos públicos (incluindo saneamento do sistema bancário) foram implementados em diversos países.

Carta do IBRE: O difícil cumprimento das regras fiscais em 2019 e 2020

Considerando o cenário econômico atual, o cumprimento da meta de déficit primário do governo central, em 2019, de R$ 139 bilhões requer um contingenciamento no Orçamento na casa de R$ 34,2 bilhões. Por conta disso, como observa a economista Vilma Pinto, especialista em contas públicas do FGV IBRE, os gastos discricionários não poderão ultrapassar R$ 95 bilhões no corrente ano. Para se ter uma ideia do que esse número representa, nos 12 meses acumulados até junho deste ano, o gasto discricionário do governo federal atingiu R$ 120 bilhões.

Um impulso fiscal é inevitável, melhor que seja moderado e bem direcionado

A lenta recuperação da economia brasileira após a profunda recessão de 2014-2016 exaspera a sociedade e o sistema político nacional. O PIB caminha para o terceiro ano consecutivo de crescimento em torno de 1% (pode ser abaixo disto em 2019), e 13 milhões de trabalhadores estão desempregados.

Uma nova opção de aposentadoria para o “andar de baixo”

Com as contas públicas em frangalhos, urge a adequação de nosso modelo previdenciário aos novos tempos. É sempre bom lembrar que não há milagre: o aperto nas regras de aposentadorias e pensões cria necessariamente “perdedores”. A questão é pura aritmética. Há de se fazer as contas do custo para o erário e dos ganhos para a população. Depois de muito debate, a Nova Previdência tramita no Congresso Nacional em vias de ser aprovada.

Implicações da regra de reajuste do salário mínimo

A manutenção da regra atual de reajuste do salário mínimo nacional, pela inflação do ano anterior (INPC) mais o aumento real do PIB de dois anos antes (caso este último seja positivo), levaria os gastos do governo federal com benefícios previdenciá­rios e assistenciais no valor de um salário mínimo de cerca de R$ 305 bilhões este ano para R$ 540 bilhões em 2029 e R$ 860 bilhões em 2040. O cálculo,1 realizado por Bráulio Borges, pesquisador associado do FGV IBRE, leva em conta reais constantes (a preços de 2019).

A contribuição do FGV IBRE para a produtividade

A produtividade do trabalho no Brasil por hora trabalhada cresceu em média apenas 0,4% ao ano entre 1982 e 2018. Esse ritmo é extremamente lento para um país em desenvolvimento, e se constitui numa das causas centrais pelas quais o Brasil há décadas não converge para os padrões socioeconômicos dos países mais avançados. Entender, diagnosticar e propor soluções para o problema do baixo crescimento da produtividade brasileira, portanto, é um ponto crucial da atual agenda de desenvolvimento do país.

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