Samuel Pessoa

Samuel de Abreu Pessoa. Físico e professor de economia, é pesquisador do FGV IBRE e sócio diretor do Julius Baer Family Office.

Teremos que conviver com o vírus

Há três estratégias de enfrentamento da pandemia: contenção, mitigação e supressão. Supressão é o que temos feito. Reduz-se a praticamente zero a interação social presencial. Mantêm-se as atividades e serviços públicos essenciais, além daquelas atividades fundamentais à vida doméstica: produção e distribuição de alimentos, de produtos de higiene e limpeza pessoal e de medicamentos.

A mitigação é um caso atenuado de supressão. Um conjunto maior de atividades são mantidas.

A crise econômica produzida pelo Covid-19

Trata-se de uma gripe de elevada letalidade (mas não elevadíssima) e com fácil transmissão. Aparentemente menor em climas quentes e úmidos. O problema é que diversos doentes precisam de recursos hospitalares. Caso contrário a letalidade eleva-se muito. Ou seja, apesar de ser uma gripe, para muitos doentes a prescrição típica para gripe – cama, chá, alimentação leve e um bom livro – não se aplica. A letalidade depende muito da disponibilidade de recursos para tratamento.

O que se passa com o setor externo?

O Banco Central já tem os números fechados para as contas externas de 2019. A economia apresentou um déficit de transações correntes de US$ 50,7 bilhões, ou 2,8% do PIB.

A perplexidade decorre de a economia ter crescido muito pouco – segundo projeções do FGV IBRE, em 2019, a economia cresceu 1,2% – e de haver expressiva ociosidade, o que parece não combinar com um déficit externo daquela magnitude.

O Chile, a maldição latino-americana e os valores da sociedade

O Chile é o país latino-americano de melhor desempenho, sem sombra de dúvida. Seu produto per capita, segundo estimativas do FMI, será, em 2020, 40% do americano, já considerando diferenças sistemáticas de custo de vida entre as duas economias. Essa mesma estatística para Brasil e Argentina é de 25% e 30%, respectivamente.

Desenha-se a recuperação cíclica

Em seguida à fortíssima crise que se abateu no Brasil entre 2014 e 2016 – maior queda nos últimos 120 anos de PIB absoluto e segunda maior queda de PIB per capita – e na sequência de uma recuperação muito lenta – por três anos seguidos, entre 2017 e 2019, a economia caminhará ao passo de cágado de 1% ao ano –, estão dadas as condições para uma recuperação cíclica, segundo a avaliação da coluna.

Liquidez excessiva sem inflação – o caso americano

Após a crise das hipotecas tóxicas – crise do subprime – que estourou com a quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008, os bancos centrais do mundo desenvolvido elevaram muito a liquidez nas economias. Apesar da grande expansão da liquidez, a inflação não surgiu.

Alguns analistas argumentam que a ausência de inflação após toda a enxurrada de liquidez indica que os princípios da teoria monetária se alteraram.

Lentidão da retomada

O crescimento – projetado pelo IBRE – de 1,1% em 2019 (revisto para 1,2% após o PIB crescer 0,4% no terceiro trimestre deste ano), frustrou as expectativas.1 Como já afirmei, em dezembro de 2018 esperávamos crescimento para 2019 de 2,4%. Não foi pequena a decepção. Caminhamos para três anos seguidos de retomada com crescimento anual de 1%. Tudo indica que esse é nosso potencial de crescimento. Assim, poderíamos ser pessimistas quanto ao crescimento em 2020.

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